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São Paulo

The Coffee Traveler by Ensei Neto

CIÊNCIA

O ar que nos permite viver

Ensei Uejo Neto

Pontões, Norte do Espírito Santo.

A Natureza é um grande laboratório e tem uma mecânica de funcionamento que é simplesmente perfeita, sempre trabalhando sob rigorosa harmonia.
Tudo na Natureza tende ao Equilíbrio. Nem de mais, nem de menos.
Apenas produz para o que basta!

 Dentro dessa lógica, o ar que nos dá a vida é, ao mesmo tempo, aquele que nos tira.

O oxigênio é fundamental para que permaneçamos vivos; no entanto, o processo de envelhecimento nada mais é do que o resultado de uma série de reações de oxidação, que leva à falência das células e, portanto, ao inevitável fim da vida.

 A fruta do cafeeiro, como se sabe, é classificada como não climatérica, que significa que só atinge o amadurecimento enquanto estiver ligada à planta e, por isso, é o momento em que também se torna, digamos, independente a partir de sua senescência ou envelhecimento. Esta fase, após ficar madura ou cereja, fica representada pelo estágio passa, com a progressiva desidratação natural da fruta.

 

Os processos de pós colheita podem ser resumidos, de forma simplificada, numa única operação: secagem das sementes.

A dinâmica ou velocidade de secagem define se subprocessos adicionais podem ocorrer, principalmente aqueles ligados à fermentação.

 A umidade da fruta madura fica em torno de 50% m/m, sendo que na polpa esse teor é maior. São constituintes da polpa, também, açúcares, proteínas e outras substâncias em menor quantidade.

Num processo de secagem que segue um ritmo normal, basicamente ficam garantidos os grupos de substâncias formados durante o seu ciclo da fruta, conhecido como ciclo fenológico, que são os açúcares, resultado da fotossíntese e pelo acúmulo via metabolismo basal, e os ácidos, principalmente o cítrico, produzido durante a respiração.

Essa dupla dinâmica garante uma gama de sabores e aromas denominados de básicos ou clássicos, que todo excelente café deve apresentar na xícara.

 

Se a secagem for lenta ou muito lenta, há margem para que um grupo marginal contribua para a formação de sabores e aromas por sínteses diversas, que são os processos fermentativos. Fungos, leveduras e bactérias podem chegar, apoquetar e começar a trabalhar, exercendo seu fascinante poder de converter açúcares em substâncias que despertarão nosso olfato e paladar.

Sim, a fermentação nada mais é do que resultado de uma secagem feita em câmera lenta.

 Detalhe: não pode ser excessivamente lenta.

Os defeitos capitais, o conhecido Trio Calafrio PVA – Preto ou Podre, Verde e Acético ou Ardido, à exceção do Verde, são decorrentes da morte da semente. O ácido acético ou vinagre é formado depois que o Saccharomyces Cerevisae transformou o açúcar em álcool e, em seguida, o Acetobacter faz a síntese acética. Sendo um ácido bastante agressivo, mata a semente do cafeeiro, literalmente transformando um lote candidato a potencial maravilha num desastrado ceviche vegano. Morte acética.

 Se a fermentação anaeróbica se prolongar demais, a semente morre por asfixia pura e simplesmente. Não se esqueça de que a semente é um indivíduo que deve permanecer vivo até o momento da sua torra e o que certifica que assim continua é sua respiração.

Como todo ser vivo, respira oxigênio para devolver gás carbônico. Costumo dizer que as sementes não podem ficar indefinidamente com o “nariz entupido”. É morte certa, que traz à tiracolo o apodrecimento.

 Observe que esses dois defeitos capitais são devidos à semente morta.

Semente apodrecida com típica coloração preta.

 

A secagem “porteira adentro”, feita pelo cafeicultor, tem como princípio preservar os bons atributos dos grãos de café por meio da diminuição do processo metabólico (leia-se respiração e todas suas consequências...), descrito como estado de dormência. Respira-se, mas muito lentamente.

O teor de umidade que representa a quantidade de água livre é altamente relevante. Como fica entre as células da semente, caso esteja em quantidade maior do que a ideal, aloja-se muito próximo à superfície, facilitando e, portanto, aumentando o processo respiratório.

O branqueamento do grão é o equivalente ao branqueamento pelo qual pessoas que falecem passam também. Outro ponto que aponta a estreita similaridade entre o café e os humanos.

 A armazenagem tem papel muito relevante, como comentado acima: preservar os atributos que vão apaixonar as pessoas por esse lote de café.

Todo o cuidado é importante para que essa condição seja plenamente satisfeita. Umidade relativa do ar no ponto certo, temperatura ambiente idealmente para baixo dos 25ºC.

 Todo estresse é um problema, diminuindo a vida do grão de café.

Que nesta safra a morte dos grãos de café seja evitada!

Esse é o ponto!