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São Paulo

The Coffee Traveler by Ensei Neto

SENSORIAL

Filtering by Tag: Consumo

Café: Mitos, paradigmas e dogmas – 2

Thiago Sousa

Afinal, em qual serviço se tem mais Cafeína?

Esta é uma das perguntas mais corriqueiras entre as pessoas que se apaixonam pelo café e que, por isso, se tornam suas estudiosas.

A Cafeína faz parte das substâncias chamadas de Compostos Clorogênicos. Este grupo de substâncias, depois de muitos estudos e trabalhos em diversas instituições acadêmicas e de pesquisa, foi reconhecido por atuar  na diminuição da obstrução das vias circulatórias por placas de gordura e, também, no cérebro, auxiliando mais especificamente a área a memória de curto prazo.

A Cafeína, que até recentemente era tida como algo do Mal, sendo muito pouco recomendada para crianças (apesar de que se consumida na forma de um refrigerante do tipo “Cola” os pais não ficavam nem um pouco preocupados…) por diversos organismos do setor de saúde, hoje está reabilitada, assumindo inclusive posição de uma substância do Bem, pois seus efeitos benéficos são muito relevantes. E por ser a substância de destaque no café, tem seu nome derivado dessa bebida tão consumida!

A molécula da cafeína possui certa complexidade em sua estrutura e se sua solubilidade na água não é grande coisa, tão pouco não é desprezível. Por outro lado, é razoavelmente solúvel em óleos, assim como boa parte dos compostos clorogênicos. Esta é uma das razões porque o crema do espresso em geral apresenta amargor além do toque aveludadamente cremoso pelos óleos. 

No espresso, a extração é feita sob alta pressão (classicamente a 9 bars ou o equivalente a 9 atmosferas ou, ainda, 9 vezes a pressão do ar no litoral) e os óleos são sempre arrastados. Como não se misturam com a água, ficam sobrenadantes, formando a crema.

A Escola Clássica Italiana recomenda que oespresso seja preparado, considerando-e a quantidade de pó de café, segundo a proporção 1:4 : um quarto de onça massa (= 7 gramas) para uma onça líquida (= 28 ml; sim, por facilidade, houve um arredondamento para 30 ml…)

Nessa proporção, a chamada Concentração de Preparo fica em 25 % de massa (as 7 gramas) no total de volume extraído (os 30 ml). Para uma boa extração de espresso, considera-se que o total de substâncas extraídas do pó de café tenha sido em torno de 20% da massa inicial ou 1,4 gramas. Se admitirmos que a quantidade média de cafeína em grãos da espécie arabica é em torno de 2%, o total de cafeína na xícara corresponde a 0,028 gramas. 

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E como ficaria num processo de coador?

Tudo vai depender, inicialmente, da Concentração de Preparo e do tamanho da xícara que você usar. Imagine que seja escolhida a concentração de um Cafezinho tipicamente brasileiro:10% de pó. Se for para preparar 1 litro de Cafezinho, teremos 100 gramas de café em pó.

Vamos aos cálculos: novamente admitindo que a extração tenha eficiência de 20%, teremos 20 gramas de substâncias extraídas do pó. Admitindo que a Cafeína mantenha os 2% de participação nessas substâncias extraídas, obtemos 0,400 gramas em 1 litro de Cafezinho feito na hora!

Qual é a xícara que você costuma usar para bebero Cafezinho?

Bem, considerando que seja uma xícara de 50ml, temos aqui 0,020 gramas de cafeína. Incrível, não?!

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Há um consenso de que no espresso bebemos menos cafeínado e num cafezinho, porém estamos vendo que a realidade é bem diferente! 

Mas, tem outras coisas a serem consideradas…

Com o crescimento da Escola Nórdica para o Espresso, a Concentração de Preparo de cada “shot” subiu para 10 a 12 gramas de pó, ou seja, no mínimo uma xícara de espresso passa a conter 50% a mais de cafeína!

Por outro lado, uma notícia bacana: o Café e sua fiel escudeira Cafeína formam talvez a única bebida de Consumo Auto-Regulável no mercado. Isto porque cada pessoa possui um nível de saturação de consumo de cafeína, de modo que se alguém consumir cafeína além da conta, o corpo passa a não mais querer continuar a beber café, até que a cafeína ingerida tenha sido metabolizada e, digamos, “saída”. 

Ponto positivo para essa apaixonante bebida!

Assim, podemos beber sem moderação, sempre pelo simples prazer de beber.

Para onde caminha o café no Brasil

Thiago Sousa

No final de janeiro, a ABIC – Associação Brasileira da Indústria do Café, publicou o estudoIndicadores da Indústria do Café no Brasil – 2010, que analisa o desempenho da indústria e do consumo interno no período de Novembro de 2009 a Outubro de 2010.

Alguns números mostram como o consumo no nosso país vem crescendo de forma muito acima da média mundial, em parte devido ao maior poder de compra dos brasileiros. No período considerado, houve um aumento de mais de 700 mil sacas de 60 kg de café consumidos, totalizando impressionantes quase mais de 19,13 milhões. Isto significa que, mantendo-se uma taxa de crescimento em torno de 5% ao ano, o Brasil poderá atingir 21 milhões de sacas de 60 kg de café em 2012, o suficiente para tornar o nosso o maior mercado consumidor do mundo.

Observe no gráfico abaixo como foi o desempenho de consumo interno ano a ano desde 1990.

À exceção de 2003, o desempenho do consumo de café no mercado brasileiro foi sigficativamente positivo, por vezes com números expressivos. A população do Brasil, que em 1970 era de 90 milhões de pessoas, mais que dobrou nestes 40 anos, ultrapassando os 190 milhões. Se a população cresce, é de se esperar que ocorra, também, o crescimento do consumo.

Mas, esta tarefa não é fácil…

Além da forte concorrência da indústria de bebidas com novos produtos a cada estação, agora com águas minerais diferenciadas ou os sucos de fruta (ou melhor, agora “néctares” de frutas industrialmente constituídos…), sempre houve resistência em se oferecer café às novas gerações porque haviam mitos como o de que “café ataca o estômago” ou “cafeína não deve ser consumida desde criança”… A partir de um grandioso esforço para mostrar que o café, desde que com qualidade mediana para muuuuito melhor, é Bebida do Bem, as novas formas de consumo ajudaram a posicionar nosso “pretinho básico” como uma Bebida da Moda!

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O que faz mal, atacando o estômago é o café de baixa qualidade, formado por grãos que sofreramfermentações indesejáveis e repleto de compostos fenólicos, que foram utilizados como desinfetantes hospitalares a partir do período Vitoriano na Inglaterra. Se essas substâncias exterminam bactérias e outros fortes contaminantes, imagine o estrago que fazem no estômago!

Parte do crescimento do consumo está ligado a um outro trabalho conjunto de toda a cadeia produtiva:Cafés Especiais são especiais porque além de boas estórias e da gente boa que os produzem, sua qualidade sensorial é um emocionante convite ao consumo! É claro que tudo isto teve como pilar programas educativos, envolvendo os veículos de informação, tendo-se espaço para se falar, explicar e comentar sobre os diferentes, saborosos e hoje respeitados Cafés do Brasil. Um indicador do que digo é o número de workshops e cursos sobre café disponíveis nos dias de hoje, sempre com classes lotadas de novos apaixonados por café!

Confira na tabela abaixo quais são as 50 Maiores Indústrias de Café do Brasil filiadas à ABIC:

Na verdade, o mercado brasileiro de café está passando por um momento de forte reestruturação: muitas fusões e aquisições vem  acontecendo, tradicionais empresas despediram-se do mercado, muitas novas pequenas torrefações artesanais surgiram, principalmente como resposta dos cafeicultores aos preços pouco remuneradores que perduraram nos últimos anos. A concentração do setor, sentido pelo tamanho cada vez mais avantajado das grandes indústrias obtido por meio de aquisições, tem gerado uma competição muito dura, que pode fazer muitas novas baixas. Isto pode ser acelerado porque um fenômeno que estava quase esquecido se estampou no mercado: o descolamento de preços entre cafés de alta e baixa qualidade, cujo abismo torna um lote de café de alta qualidade até 70% mais valorizado que um cheio de Defeitos Capitais (=PVAs ou  grãos Pretos, Verdes e Ardidos). Os cafés de baixa qualidade, que tem no forte sabor das bebidas Riada, Rio & Complementos (tem “sabor de remédio”…) como principal característica, fazem a franca maioria dos que estão em embalagens tipo almofada e que travam sanguinária guerra por espaço nas gôndolas de supermercados.

Existem, no entanto, muitas indústrias de idealistas pequenos empresários que utilizam grãos isentos daqueles problemas, oferecendo produtos de qualidade bastante razoável, mas que disputam espaço de forma insana com os produtos de pobres e intragáveis sabores.

Luta inglória, pois o maior custo da matéria prima de melhor qualidade vem minando financeira e ideologicamente esses idealistas. Sinal de mais concentração no mercado e de que o consumidor mais sensível ao preço continuará penalizado por pesadelos sensoriais…

Assim caminha a Humanidade, com sua xícara de café – 1

Thiago Sousa

Para onde caminha a Humanidade?

Creio que esta é uma das perguntas mais instigantes que as pessoas fazem a si mesmas quando chegam numa idade típica de questionamentos particulares. É interessante observar que quando adquirimos um certo senso crítico das coisas, começamos as indagações sobre para que serve ou o porque fazemos algo. Talvez uma pontinha da neurose típica do Homem, de tudo querer saber.

O mercado como um todo cada dia mais se torna mais competitivo. Afinal, é este o estigma da Natureza, que sempre evoca movimentos como a evolução e adaptação para cada grupo de seres vivos se fazerem prevalecer. Mesmo entre os seres inanimados, há uma surda batalha diária onde forças e resistências são medidas: o vento que sopra e muda a paisagem das dunas ou a chuva torrencial que cai sobre morros e promovem sua desfiguração.

 Muito tem se falado da crise na cafeicultura, quando entidades e produtores manifestam sua preocupação com o futuro tingido de negro que já bate na porta de muitos. Por outro lado, o último exemplar da revista Globo Rural dá destaque ao trabalho dos cafeicultores irrigantes do Oeste da Bahia, assentados nos arenosos planaltos de Luis Eduardo Magalhães, que se orgulham de alta tecnologia, elevada produtividade e, como consequência, sua convicção de prevalecer no competitivo mercado mundial de café cru.

Da mesma forma, a indústria de torrefação de café também vem passando por seus momentos de crise, quando tradicionais empresas e marcas simplesmente sumiram do mapa (como exemplo, paulistano Café Seleto, cujo famoso jingle se tornou um sinal para o café da manhã?). Um forte movimento de concentração do mercado, como se chama o processo em que o número de empresas atuantes decresce, seja por aquisições, seja por fusões, vem acontecendo desde meados dos anos 90, principalmente depois da entrada de grandes grupos internacionais no mercado brasileiro. O sinal mais luminoso, anunciando o início desse impressionante movimento, foi a aquisição do paulista Café do Ponto pela gigante Sara Lee, que numa prolongada temporada de compras ainda adquiriu marcas como Pilão, Caboclo e Seleto, entre outras.

As indústrias, mesmo as muito grandes, tem nos supermercados, o seu principal canal de vendas, que, por outro lado, mudou dramaticamente sua postura após a entrada de grupos internacionais como o Carrefour, quando passaram a assumir o papel de mídia, como um grande shopping center cujas áreas de locação são as prateleiras. O equilíbrio em qualquer disputa acontece quando os oponentes se equivalem em força ou habilidades. Assim, os grandes fornecedores industriais se tornaram essenciais para os supermercados, sendo a recíproca verdadeira.

No rastro disso, indústrias de menor porte e cacife, passaram a lidar com compromissos cada vez mais onerosos como repositores de mercadorias em determinadas redes de supermercados, demonstradores e um grande exército de novos profissionais de serviços típicos das fileiras das grandes companhias. Portanto, as agruras que os médios cafeicultores passam são idênticas no caso das indústrias de torrefação!

Quem é muito grande, ou seja, possui escala para oferecer todos aqueles serviços agregados à venda dos seus produtos e ainda podem adicionar mais, ou quem é muito pequeno, com estrutura enxuta, se saem razoavelmente bem. Para os de médio porte, as desvantagens são dobradas por não terem a escala dos grandes, nem a estrutura enxuta dos pequenos.

Há, porém, uma correlação muito interessante: observe a tabela de pontuação e classificação de cafés da SCAA – Specialty Coffee Association of America. Quanto menor a qualidade, a oferta tende a ser maior, portanto é esperado um cenário muito mais competitivo. É por isso que empresas de menor porte começaram a focar intensamente no mercado de cafés de alta qualidade, pois além do maior valor agregado, exige especialização e agilidade que muitas vezes os grandes podem não ter.

Tive a oportunidade de acompanhar o lançamento de uma linha de cafés especiais do Café Excelsior, de Sorocaba, SP, no início desta semana, no dia 05. O que me impressionou foi o fato de que a empresa escolheu microlotes de café vencedores de certames regionais para compor sua linha de Grand Crus.

Com uma cuidadosa comunicação onde se privilegiou destacar cada lote e seu produtor, com precisas descrições dos lotes como se vê nas empresas de ponta de mercados de especiais mais maduros como os Estados Unidos, cada origem (foram escolhidos lotes de Piatã, BA, Patos de Minas, MG, e Espírito Santo do Pinhal, SP) teve direito a um ícone de representação. Certamente, isso facilita a identificação pelo consumidor, permitindo a possibilidade de viagens sensoriais por regiões antes desconhecidas como produtoras de excelentes cafés. Alia-se o fato de tudo isso ocorrer no rico interior de São Paulo, cujos habitantes também estão descobrindo as novas perspectivas que o café pode oferecer, e o resultado pode ser um retumbante sucesso.

Quanto mais fácil o acesso e maior a oferta de excelentes cafés, mais experiências os consumidores poderão ter. E somente boas experiência fazem as pessoas querer repetir…

Café: Cada vez mais amado!

Thiago Sousa

O que torna algo mais amado é o fato de ser cada vez melhor conhecido, principalmente quanto a tudo de bom que pode oferecer.

Nos últimos tempos no Brasil o café vem ocupando grande espaço na mídia, porém muito diferente do que tradicionalmente acontecia, passando a ocupar espaço em cadernos e revistas Gastronomia eBebidas. Ainda no final da década de 90, abordagens como qualidade e iniciativas de algumas indústrias de torrefação eram tratadas apenas nas sizudas páginas dos cadernos de Economia & Negócios. Naturalmente, produção e preços do grão verde ainda figuram nestas seções, pois facilita o acesso aos produtores.

Para o consumidor, café é bebida e ponto final. Mas compreender como é produzido, selecionado e industrializado antes de chegar à nossa xícara de cada dia, tornou-se alvo da curiosidade de muitos consumidores.

Quanto mais gente bem informada, mais exigente será e, portanto, ajuda a aprimorar o mercado com seus produtos e serviços.

Num “toque” dado pelo Companheiro de Viagem Aluizio Amorim, de Floripa, SC, passo para vocês o link da reportagem Mais Que Um Cafezinho, feita pela revista Época que circula nesta semana. Mais do que a reportagem em si, o excepcional e deslumbrante infográfico tornou as informações muito acessíveis ao leitor.

Vale a pena ver!

http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI129261-17445,00-BEM%20MAIS%20QUE%20UM%20CAFEZINHO.html